quarta-feira, 12 de maio de 2010

Imaturidade e ser Adulto por Pascal Bruckner

Padre Pedro escreveu em seu blog e eu considerei muito interessante e publiquei:

"Imaturidade e ser Adulto por Pascal Bruckner

(Verbo aniversariar, aos 38 anos: 12-05-2010)

[1.] As duas imaturidades “Contrariamente a uma idéia heróica propagada com freqüência, não existe humanidade possível sem regressão, sem caduquice ou balbucios, sem deliciosas recaídas na tolice. O triste marcapasso da vida, para ser suportável, dever ser acompanhado também de uma indefectível puerilidade que se rebela contra a ordem e a seriedade. Porém existe uma boa utilização da imaturidade, uma maneira de se colocar mais perto dos encantos da infância, que alimenta em nós um impulso vivificante contra a esclerose e a rotina. Com efeito, a cada etapa da vida, dois perigos nos espreitam: o da renúncia, que quer passar por sabedoria e muitas das vezes é apenas a face do medo; e do caricatura que nos incita a imitar a juventude, a simular um entusiasmo eternamente juvenil. De que maneira amadurecer sem se resignar, guardar um frescor de espírito sem recair no simplismo adolescente?

Ora, o que nos mostram os instantes de graça da existência, esses maravilhosos momentos em que submergimos no êxtase, é que existem duas infâncias possíveis numa vida: a primeira nos deixa na puberdade, e a segunda, da idade madura, surge por explosões, visitas ardentes e foge de nós assim que tentamos capturá-la. A infância é uma segunda candura que encontramos após tê-la perdido, uma ruptura benéfica que nos irriga de sangue novo e quebra a carapaça dos hábitos. Portanto, há uma maneira de se colocar em postura infantil que é uma possibilidade de renovação contra a vida petrificada e fóssil: uma capacidade de reconciliar o intelectual e o sensível, de sair da duração, de acolher o desconhecido, de se espantar com a evidência. Viver todas as suas infâncias, como aconselhava São Francisco de Sales, é permanecer próximo da fecundidade dos primeiros anos, romper os limites do velho eu mergulhando-o num banho lustral.

Esta talvez seja uma vida realizada: uma vida em estado de renascimento, de eternas retomadas, em que a faculdade de recomeçar é mais importante do que o caráter adquirido e a preocupação de o conservar. Uma vida em que nada está petrificado, irreversível, e que concede, mesmo ao destino aparentemente mais rígido, uma margem de jogo que é a margem de jogo que é a margem da liberdade. Então a infância não é mais um refúgio patético, o inconfessável disfarce em que cai o velho adulto murcho, mas o suplemento de uma existência já desabrochada, o alegre transbordamento daquele que, tendo cumprido seu caminho, pode se retemperar na espontaneidade e no encanto dos primeiros tempos. Assim, a infância, como graça quase divina, pode atingir a face do ancião, tanto quanto a senilidade precoce pode se imprimir na do rapaz. “Não é mais surpreendente nascer duas vezes do que uma” (princesa Bibesco)” (1).

[2.] Be Yourself Idealmente falando, o que é ser adulto?

É consentir em certos sacrifícios, renunciar às pretensões exorbitantes, aprender que é melhor “vencer nossos desejos do que a ordem do mundo” (Descartes).

É descobrir que o obstáculo não é a negação, e sim a própria condição da liberdade que, se não encontra nenhum entrave, é apenas um fantasma, um capricho vão, já que só existe pela igual liberdade dos outros, baseada na lei.

É reconhecer que nunca nos pertencemos inteiramente, que de certa maneira nos devemos ao próximo, que abala nossa pretensão à hegemonia.

Por fim, é compreender que é preciso nos formar transformando-nos, que nos fabricamos sempre contra nós, contra a criança que fomos, e que nesse caso qualquer educação, mesmo que seja a mais tolerante, é uma provação que nos infligimos para nos arrancar ao imediatismo e à ignorância.

Em resumo, tornar-se adulto – se por caso o conseguimos – é fazer o aprendizado dos limites, é renunciar às nossas loucas esperanças e trabalhar para ser autônomo, capaz tanto de se inventar quanto abstrair-se de si” (2).


(1) BRUCKNER, Pascal, A Tentação da Inocência, Ed. Rocco, Rio de Janeiro, 1997, pp.98-99. (2) Idem, o.c., pp. 104-105.

TRANSCREVEU: Pedro José, Chapadinha, 12-05-10; 3927 caracteres (incl. espaços). Obs. Os destaques, as numerações e os parágrafos (nomeadamente da segunda temática “Be Yourself ”) não se encontram no texto-ensaio original, são da nossa responsabilidade. É um recurso de apropriação.





Adaptado de:


http://pedroc72.spaces.live.com/blog/cns!3AD9FC88C8170E02!759.entry?sa=236770324



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